“MUITA ROTA DE EMPRESA VAI TER QUE SER ALTERADA EM FUNÇÃO DESSAS PERDAS ENORMES”, DIZ SYNÉSIO BATISTA SOBRE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA LOJAS AMERICANAS NO MERCADO DE BRINQUEDOS.

A avaliação do mandatário da Abrinq do que está feito, após a RJ, é que “não tem volta” e que “vamos ter que ver como sobreviver”. O varejista, segundo ele, representava cerca de 25% da fatia de mercado. Confira a entrevista exclusiva da Brincar.



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Synésio Batista da Costa é presidente da ABRINQ — Associação dos Fabricantes de Brinquedos.

Revista Brincar: Como a ABRINQ analisa o pedido de recuperação judicial da Lojas Americanas?
Synésio Batista - Abrinq: Nós fizemos encontros no setor de brinquedo sobre o assunto. Todo mundo surpreso. Não havia nenhum sinal que indicasse que isso aconteceria. Que isso estava acontecendo. Consideramos uma atitude muito complexa. Não dá para fazer prejulgamento. Você está certo? Está errado? O fato é que os fatos que se sucederam ao anúncio das tais inconsistências contáveis foi um trauma enorme e um drama sem tamanho. A avaliação é que está feito, não tem volta e nós vamos ter que ver como sobreviver. Como fazer? Foi uma fatia de mercado de 25% que estava na mão da Lojas Americanas.
Revista Brincar: Se tratando de um grande varejista, qual é a expectativa de negociação a partir de agora?
Synésio Batista - Abrinq: E eles têm nos procurado para comprar, para fazer reposição estoque, a final de contas, a vida anda e ele tem que tocar as lojas deles, enquanto a RJ caminha. E estão tentando fazer pedidos e a para gente há uma avaliação individual, portanto, das empresas, no sentido de você vai vender ou não? Abrem que não pode entrar nessas coisas, mas o que eu tenho ouvido é que pode ser que haja algum fornecimento, mas um pagamento antecipado. Quando checar que o dinheiro está na conta, faz a entrega. É o que eu tenho ouvido.
Revista Brincar: Com relação aos valores e a lista de fornecedores a receber da LASA, quais serão as providências a serem tomadas em conjunto com os associados da ABRINQ?
Synésio Batista - Abrinq: A lista que você tem aí acima, falta um outro detalhe, é um tapa na cara do ambiente de brinquedo, porque não foi só a indústria de brinquedos, que causa danos irreparáveis. Não sabemos ainda se alguém, do setor vai pra RJ, mas isso é o que nós chamamos de perda líquida. O dinheiro que nunca mais vai entrar na sua conta e você tinha para receber. Então, como acomodar essa situação de cada empresa? Tenho conversado com todo mundo, mas há uma tristeza geral e gente pensando o que que vai fazer na vida? Muita rota de empresa vai ter que ser alterada em função dessas perdas enormes, que você pode ver aí na relação acima. Não dá para tomar uma medida em conjunto. Eu tentei conversar com o presidente da Americanas, que é o homem do RH, que assumiu o posto de presidente, para ver se podia pelo menos pagar a indústria nacional, antes que a coisa acontecesse. Essa conversa não pode prosperar naturalmente.
Revista Brincar: Qual é o impacto no fluxo de caixa destas empresas que forneceram para a LASA sobretudo no Dia das Crianças e Natal?
Synésio Batista - Abrinq: O fluxo de cara dessas empresas está definitivamente prejudicado, a um horror. Agora vamos ter que arrumar dinheiro para financiar a produção e para vender para o Dia das Crianças e Natal. Uma coisa importante é se considerar é que nem uma criança brasileira vai ficar sem brinquedo no Dia das Crianças ou no Natal. Isso certamente vai fazer com que nasçam uma quantidade muito grande de pequenas lojas pelo país inteiro, mas a criança, os 50 milhões de crianças não vão ficar sem brinquedo, pois vão comprar em algum outro lugar. Então agora o exercício das empresas do setor de brinquedos é encontrar uma melhor distribuição que permita sobreviver e substituir esse cliente tão grande ou em total, ou em parte.
Revista Brincar: Mesmo com a RJ em curso, as empresas associadas da ABRINQ pretendem continuar fornecendo brinquedos para a LASA? Explique:
Synésio Batista - Abrinq: A única possibilidade de isso acontecer, é claro, a relação com a Lojas Americanas é uma relação estável de muitos anos, é como em toda é RJ, pagamento antecipado.
Revista Brincar: O volume de compras de brinquedos da LASA vai ser absorvido por outros players?
Synésio Batista - Abrinq: Nós não achamos que vai ser absorvido por outro player, não no espaço de tempo curto. Isso é um negócio que um rearranjo que vai levar 2 anos mínimo. Não se faz, não se nasce, não se cria, não se monta uma loja de brinquedo da noite por dia. E todo mundo fica sabendo onde aí vai lá comprar. É um processo, mas está todo mundo trabalhando com muita seriedade, com muito respeito, com muito cuidado, para não estragar ainda mais, mas as crianças brasileiras continuam nascendo e a gente vai ter que ser capaz de vender brinquedo para elas pelo canal A, pelo canal B, na loja A, na loja B, em algum lugar, mas elas não vão ficar sem brinquedos.
Revista Brincar: Gostaria de fazer algum outro comentário?
Synésio Batista - Abrinq: Queria só comentar aqui. Acho que houve uma inabilidade muito grande daquele senhor que era o presidente na época. Não preciso dizer o nome, não na Live que ele fez, ele ao invés da estabilidade, ele causou instabilidade. Ao invés de falar do assunto, ele se defendeu de coisa que ninguém tinha acusado, que ninguém sabia de nada, mas acho que a somatória de inabilidades em um momento desse é tudo muito grande. E o banco vai num processo, o outro que é outro processo, e tem os trabalhadores. Ou seja, é muito grande. A gestão de uma RJ como essa, a gente não sabe como vai ser, como pode ser ou de que jeito vai acontecer, mas é grande demais para prever agora.

©Lojas Americanas/Reprodução

Fac-simile da lista de credores da Lojas Americanas, ranqueados apenas os do segmento de brinquedos.