COMO FICA AGORA A SITUAÇÃO DAS EMPRESAS CREDORAS DA LOJAS AMERICANAS?

Um credores da Lojas Americanas S/A, que pediu recuperação Judicial após reportar um rombo contábil de 20 bilhões de reais em Janeiro, Carlos Tilkian, presidente da Brinquedos Estrela foi um dos primeiros a se pronunciar. Confira a reportagem exclusiva da Brincar.


©Brinquedos Estrela/Divulgação

Carlos Tilkian, presidente da Brinquedos Estrela: "No momento só voltaremos a fornecer contra pagamento antecipado até que o plano de pagamentos ou plano da RJ seja apresentado."

O escândalo contábil de R$ 20 bilhões reportado no último mês de janeiro se transformou no quarto maior pedido de recuperação judicial do país. E a varejista que era ‘Promissora’ até semana passada, como diz a petição do banco BTG, envolvido no imbróglio financeiro, caiu em descrédito. A dita petição aponta que não existia desconfiança do mercado sobre a qualidade de gestão da Americanas até ela mesmo divulgar o rombo contábil, que culminou na saída do então CEO Sergio Rial e do CFO André Covre, apenas nove dias depois de assumirem os cargos.
Rial, o CEO da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil, renunciou ao cargo na quarta-feira (11 de janeiro) à noite, lançando um documento que intitulou “Fato Relevante”, depois de ter sido descoberta uma “inconsistência” contábil no balanço da companhia da ordem de R$ 20 bilhões.
Mas o que aconteceu com esses R$ 20 bilhões? Qual é essa “inconsistência”? Como isso ocorreu numa empresa que tem como acionistas de referência a 3G Capital, do badalado trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles?
Afinal, a cifra é gigantesca. Para se ter ideia, no último balanço financeiro da Americanas, de setembro, a empresa informou ter R$ 47 bilhões em ativos e patrimônio líquido de R$ 14 bilhões.
Mesmo com infindáveis questionamentos, a empresa ingressou com um pedido de Recuperação Judicial (RJ) que foi aceito pela 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro e o volume de capital envolvido na questão pode colocar em “maus lençóis” muitos dos seus credores. Para se ter uma ideia do rombo nas contas dessas empresas, somente para 24 empresas do mercado de brinquedos, ranqueadas numa lista de credores divulgada pela própria Lojas Americanas soma R$ 368.960.940,57.
A Estrela e Starcom, do mesmo grupo, está rankeada em 10º. lugar nesta lista, com créditos no valor de R$ 8.158.473,89.
Confira a seguir a entrevista com Carlos Tilkian, presidente da Brinquedos Estrela, sobre o posicionamento da empresa perante os fatos recentes ocorridos sobre a Lojas Americanas S/A (LASA).

©Brinquedos Estrela/Divulgação

Após o rombo financeiro da Lojas Americanas, a Brinquedos Estrela tem créditos de mais de 8 milhões de reais.

Revista Brincar: Como fornecedor da LASA, como a sua empresa analisa o pedido de recuperação judicial da Lojas Americanas?
Carlos Tilkian: Como fornecedor das lojas Americanas. Nós ficamos totalmente surpresos, não só pelo fato do pedido da recuperação judicial, mas acima de tudo, como o processo caminhou desde a primeira informação e a rapidez com que tudo aconteceu. Uma grande surpresa dessa inconsistência contábil há tantos anos não ter sido percebia pela auditoria, não ter sido notada pelos bancos e infelizmente chega num momento logo depois do Natal, que é muito, muito ruim para muitas empresas fornecedoras das lojas Americanas, então E foi uma grande surpresa nesse sentido.
Revista Brincar: Com relação aos valores a receber da sua empresa com a LASA, qual será a providência tomada e se isso vai impactar no fluxo de caixa da sua empresa?
Carlos Tilkian: Bom, a providência que nós estamos tomando com relação aos recursos que nós temos de receber de lojas Americanas. Nesse momento está na fase em que as empresas têm que confirmar os valores informados pelas lojas Americanas ao juízo e depois infelizmente temos que aguardar o plano de recuperação, a proposta de pagamento, como que vai ser isso, mas neste momento não temos muito o que fazer a não ser compatibilizar os valores a receber.
Revista Brincar: Mesmo com a RJ em curso, a sua empresa pretende continuar fornecendo brinquedos para a LASA? Explique:
Carlos Tilkian: E nós neste momento só voltaremos a fornecer contra pagamento antecipado até que o plano de pagamentos ou plano da RJ seja apresentado e aí a comissão de credores e o grupo de credores vai tomar uma decisão se aceita ou não. Então tem ainda muita discussão jurídica. E no caso específico da Americanas, em função de todas essas dúvidas, de possíveis fraudes no processo, a quantidade brutal de processos que já abriram contra a empresa, seus gestores, alguns membros do conselho, então enquanto toda essa situação não tiver clareada, a nossa empresa só fornecerá mediante pagamento antecipado.

©Lojas Americanas/Reprodução

Fac-simile da lista de credores da Lojas Americanas, ranqueados apenas os do segmento de brinquedos.